Qual a importância do texto na minha montagem?

Pensar na importância do texto teatral em uma montagem de uma peça nos leva imediatamente para outra pergunta: Quem está participando desta montagem?

Se estamos falando de teatro profissional ou amador, mas de um grupo no qual o intuito é representar um determinado texto por sua qualidade dramatúrgica, a importância do texto será grande, afinal a definição por fazer este espetáculo partiu dele. Mas se estamos falando de um grupo de alunos em uma montagem escolar, que decidiram fazer teatro e que a escolha do texto surge como consequência do desejo de se apresentar, teremos que relativizar esta importância.

Novas perguntas surgem! Qual a idade dos alunos? São leitores fluentes? Escolheram fazer teatro ou faz parte do currículo escolar? É uma montagem da aula de teatro ou da aula de literatura?

As respostas que surgirão vão alterar significativamente a maneira pela qual o texto será parte da montagem, mas como aqui escrevo para situações hipotéticas, farei algumas considerações para que diferentes respostas possam ser atendidas.

A primeira delas diz respeito à fluência na leitura. Só faz sentido trabalhar com um texto, se os atores são leitores, portanto se o teu grupo de alunos é da educação infantil ou dos anos iniciais do fundamental e ainda estão em processo de alfabetização, ou ainda, se o grupo é de analfabetos, utilizar um texto é colocar uma dificuldade desnecessária ao trabalho.

Se a montagem for uma maneira de que os alunos conheçam um movimento literário, o que é comum no ensino de línguas, evidentemente o texto deve ser bem trabalhado e o respeito ao seu estilo é necessário para que sejam compreendidas as características literárias. Mas neste caso, o teatro está a serviço da literatura e não há uma preocupação tão grande com a qualidade teatral ou com a experiência teatral.

Quando estamos com um grupo de pessoas interessadas em fazer teatro e na experiência de apresentar uma peça, a importância do texto passa a ser outra. Embora eu adore dramaturgia e reconheça que algumas obras dramatúrgicas são de uma beleza tal que merecem ser encenadas sem nenhuma alteração textual, o aprendizado teatral não pode ficar restrito a conseguir aprender um texto.

O texto pode ser um estímulo importante em uma montagem, pode oferecer um caminho para que o grupo se expresse sobre um determinado tema ou situação, mas ele precisa deixar espaço para o corpo, para os gestos, para a experiência de se expressar com este todo, que não se resume a saber fazer uma boa leitura.

Teatro não é literatura, a literatura se basta em tudo o que ela nos possibilita. Teatro é outra linguagem e o texto pode ser uma parte significativa em uma montagem, mas ele será sempre uma parte e não a mais importante. O trabalho gestual, o trabalho de voz, as expressões faciais, a interação entre os atores e atrizes, a ocupação do espaço, tudo isso faz o teatro. O texto pode ser um grande aliado, mas não pode roubar a cena.

Lelê Ancona

Professora de teatro desde 1986, tenho trabalhado em todos os níveis de ensino nos últimos 15 anos, principalmente com formação de professores. Minha graduação foi em Artes Visuais, na Faculdade Santa Marcelina, em SP, mas como já fazia teatro, fiz a Especialização em Teatro e Dança na ECA/USP, onde entrei em contato com os Jogos Teatrais da Viola Spolin, que foram marcantes para minhas escolhas como docente.

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