Palmas para o artista

A relação entre palco e plateia é com certeza fonte de diversas reflexões sobre a cena teatral. Há quem diga que no ensino de teatro não importa a apresentação, o que importa é o processo vivido pelos alunos/atores.

Como não importar algo que faz parte da cena?

Imagem do Teatro Polytheama de Jundiaí

Muitas confusões neste meio de campo são decorrentes de uma concepção de peça teatral como um grande espetáculo, como algo pronto para ser mostrado a uma plateia que vê a cena distante da mesma. A imagem do palco italiano, com luzes sobre os atores, que ofuscam seu olhar, impedindo-o de ver o público, que por sua vez está lá, longe, sentado nas cadeiras da plateia, quase como uma massa de gente.

Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar

Neste pequeno trecho da música Na carreira, Chico Buarque apresenta uma imagem de plateia que pode tanto ser assustadora, pensando em bocas abertas e devoradoras, mas também pode ser uma imagem de entrega, de encontro, de almas que se juntam neste momento da criação.

Vejo a plateia nesta segunda opção, como pessoas com as quais os alunos/atores se encontram, trocam, criam juntos, na proposição de uns e na leitura de outros.

Talvez este encontro seja o que há de mais encantador na Arte, este encontro que acontece entre o artista, sua obra e seu público, encontro do qual todos saem transformados.

Você pode estar pensando que isto talvez ocorra com atores profissionais, mas não com crianças em apresentações escolares. Será que não? Não digo que seja o mesmo, mas há algo de essencial que perpassa a todas as apresentações, que é vivenciar juntos um processo criativo. Quando o que se apresenta é o resultado de um processo criativo, ainda que com os limites decorrentes da pouca idade ou do pequeno domínio desta linguagem, vivemos o encanto de compartilhar um processo criativo, uma descoberta, o conhecer.

Imagem de apresentação do Projeto Palco, disponível em www.projetopalco.com.br

Mas para que este encanto ocorra é necessário adequar a plateia, seu tamanho, seu formato, a proximidade com a cena, ao grupo que se apresenta. Nem sempre precisamos de um palco italiano, com luzes e distância. Algumas plateias precisam ficar pertinho, perto o suficiente para serem tocadas pelas crianças. Como fazer isto? Volto a este assunto em um próximo post!

Lelê Ancona

Professora de teatro desde 1986, tenho trabalhado em todos os níveis de ensino nos últimos 15 anos, principalmente com formação de professores. Minha graduação foi em Artes Visuais, na Faculdade Santa Marcelina, em SP, mas como já fazia teatro, fiz a Especialização em Teatro e Dança na ECA/USP, onde entrei em contato com os Jogos Teatrais da Viola Spolin, que foram marcantes para minhas escolhas como docente.

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