Terrenal – Pequeno mistério ácrata
“Em cartaz em Buenos Aires há quatro anos, peça que traz o mito bíblico de Caim e Abel aos dias atuais, já foi assistida por mais de 65 mil espectadores.
Baseado na história bíblica de Caim e Abel, dois irmãos que vivem às brigas competindo tanto pela atenção do “pai” quanto pela propriedade, é o argumento de Terrenal – Pequeno Mistério Ácrata, sucesso de público e críticas, *dia 13 de Abril – Sábado 19H, no teatro do SESC Jundiaí*. A direção é de Marco Antonio Rodrigues, com tradução de Cecília Boal e um elenco composto por Celso Frateschi, Danilo Grangheia, Dagoberto Feliz e Demian Pinto, que faz a trilha ao vivo no espetáculo.
Por meio de uma linguagem cênica que prioriza a comicidade, a tragicomédia e a
metateatralidade, Terrenal poetiza sobre a história de ódio entre dois irmãos,
e aponta, em um pano de fundo, conflitos sociais. O texto bíblico do livro de
Gênesis narra o que é considerado o primeiro assassinato do mundo, mas Kartun
aproveita este mito e vai além – usa esta potência do conflito para falar de
assuntos contemporâneos que envolvem justiça, riquezas e visão de mundo. Aliás,
com muito merecimento, a questão tem aparecido em outras searas artísticas,
como o emblemático livro “Caim”, de José Saramago, da Companhia das Letras, que
nas palavras de Juan Arias, jornalista e escritor, “(…) é também um grito
contra todos os deuses falsos e ditadores criados para amordaçar o homem,
impedindo-o de viver, em total liberdade, sua vida e seu destino”.
Foi nesta apresentação de dois dias atrás que assisti esta peça. Um bom motivo para vê-la é a atuação do elenco, motivo sempre suficiente para qualquer peça, afinal, nem sempre temos um grupo de atores que vale a pena ser visto. Neste caso, vale! Envolvem, emocionam, atuam de maneira que me faz dar vontade de ir ao teatro, mesmo em uma noite chuvosa.
Como se a atuação não bastasse, o texto é lindo, o cenário cumpre sua função de maneira poética, colocando o espectador em um movimento mental de relações múltiplas e a sonoplastia é deliciosa. A peça conta com um músico/ator que faz com que a sonoridade do espetáculo seja tocante.
Tudo isso já basta? Sim, mas tem mais! A peça aborda a contemporaneidade, a situação política vivida na atualidade, as relações de poder, o olhar para a necessidade de riqueza, as relações humanas. Vale muito! Saia de casa, descubra onde assistir e aproveite.