É preciso figurino para fazer teatro?

É preciso figurino para fazer teatro?

Para respondermos a esta pergunta, vamos antes entender o que é o figurino.

Figurino é a roupa, o adereço, o enfeite de cabeça ou de corpo que é utilizado pelos atores quando fazem teatro. Ele pode ter sido escolhido, criado por algum figurinista ou apenas ser a roupa que o ator usava no momento da cena. Mesmo que seja a roupa de ensaio, quando utilizada em cena, passa a ser o figurino escolhido.

Imagem retirada do vídeo O avesso do figurino disponível em https://www.youtube.com/watch?v=bKN9FIKmis8

 

Ao pensarmos desta forma, sempre haverá um figurino em cena, mesmo que seja o uniforme utilizado por alunos em uma sala de aula. Fausto Viana fala sobre figurinos em sua dissertação de mestrado:

“O figurino é qualquer peça que será portada pelo corpo do ator em cena, fazendo parte do conjunto visual que ele apresenta, independente do espaço cênico. A roupa é fundamental e interage com todos os elementos que compões o espetáculo: a iluminação pode alterar a sua cor, a coreografia pode ser prejudicada, o cenário pode apagar seu efeito. Até mesmo uma marcação de cena pode tornar o figurino inútil ou desnecessário, se o ator não aparecer.

E o oposto também é verdadeiro: todas as funções citadas acima podem ser realçadas pelo figurino. Da interação surge um trabalho harmonioso. A luz pode transformá-lo, aumentando ou diminuindo-o! O cenário ganha nova vida com peças de vestuário adequadas. Uma coreografia torna-se mais graciosa com tecidos leves sugerindo múltiplos efeitos aéreos…

Tudo isso para compor o espetáculo teatral.”

O figurino conta muito sobre o personagem, ele possibilita que saibamos mais sobre diversas características como a idade, a classe social ou o estilo de vida, mas não é o figurino que compõe um personagem e sim a interpretação. Por mais incrível que seja um figurino, ele não sustenta um personagem se o trabalho do ator for ruim.

Imagem retirada do texto Trabalho do Figurinista, disponível em: https://issuu.com/indepininstituto/docs/o_trabalho_do_figurinista_-_arquivo

 

Mas como pensarmos o figurino para o ensino de teatro? Será que ele é sempre necessário?

Eu acho que não!

 

 

O trabalho realizado com alunos pode ser feito sem qualquer figurino, pois o que nos interessa primordialmente é a descoberta das possibilidades expressivas. O que mais queremos é que os alunos descubram maneiras de se expressarem corporalmente, explorando gestos que nos contem sobre seus personagens, mesmo sem nenhuma roupa para ajudá-los nesta composição.

Isto significa que não devemos usar figurinos?

Claro que podemos usar figurinos, mas não é uma obrigação! Não deve ser usado em qualquer situação, em qualquer improvisação. E mais importante, não pode chamar mais a atenção que os gestos do ator.

O figurino precisa sem pensado como parte da composição do personagem, portanto ele não pode chegar à cena somente no dia da apresentação, ele tampouco pode ser algo que atrapalhe os alunos nos seus movimentos ou na projeção de sua voz.

Uma das possibilidades é que os alunos construam seus figurinos, seja com o uso de diferentes roupas disponíveis para tal, seja com a ajuda de uma costureira.

Existem figurinos maravilhosos e figurinistas que fazem um trabalho incrível! Vale a pena conhecer um pouco para que você se inspire, mostre para seus alunos e descubra as muitas maneiras possíveis de criar um personagem.

Ocupação cenográfica assinada por Laura Vinci, imagem retirada de: http://mangacenografica.blogspot.com.br/2010/05/

Para saber mais:

Rosane Muniz em Vestindo os Nus (Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2004) conta a história do figurino de teatro no Brasil. Relaciona o figurino ao trabalho do ator, à crítica e à direção, analisa o trabalho de Gianni Ratto e de Kalma Murtinho, além de entrevistar diversos figurinistas brasileiros.

 

 

Figurino Teatral e as renovações do século XX (São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010) é um livro que investiga as raízes dos processos contemporâneos da criação de trajes teatrais. Fausto Viana analisa a evolução histórica do figurino no teatro ocidental, pela pesquisa de sete encenadores: Adolphe Appia, Edward Gordon Craig, Konstantin Stanislavski, Max Reinhardt, Antonin Artaud, Bertold Brecht e Ariane Mnouchkine.

Lelê Ancona

Professora de teatro desde 1986, tenho trabalhado em todos os níveis de ensino nos últimos 15 anos, principalmente com formação de professores. Minha graduação foi em Artes Visuais, na Faculdade Santa Marcelina, em SP, mas como já fazia teatro, fiz a Especialização em Teatro e Dança na ECA/USP, onde entrei em contato com os Jogos Teatrais da Viola Spolin, que foram marcantes para minhas escolhas como docente.

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